quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Estagnado

Estive lendo trechos de edições antigas de jornais e percebi que certas notícias, ou melhor, a grande parte delas, pode ser facilmente reciclada. É engraçado que isso aconteça num mundo dinâmico e descartável como o nosso, pois hoje em dia tudo envelhece rápido e tem validade curta. Mas há sua exceção a regra: notícia de desgraça se mantém. Esses eventos continuam não por falta de dinheiro, já que o Brasil é o quinto país mais rico, e sim por falta de vontade para mudar. Não é de meu interesse entrar agora numa discussão de mandatos, muito menos em Dilma e Serra. O fato é que não existe vontade política para uma mudança, para reformar as estruturas da casa, e só de limpa-la, fazer a faxina e volta e meia por a sujeira por baixo do tapete.

(Uma nota retirada do Jornal do Brasil, 26/11)

REDONDEZAS PERIGOSAS

"Há pouco mais de uma semana, todas as pessoas - inclusive crianças - que se encontravam na praça, foram assaltadas. Há dias, três donas-de-casa foram roubadas sob a mira de armas em horas diferentes, no mesmo lugar pelo menos ladrão. Vários carros já foram levados do estacionamento existente ao longo de um dos lados da praça.
O lugar não é um paradeiro ermo, perdido nos subúrbios. É a praia de Botafogo, ainda junto ao Morro da Viúva, num trecho a menos de 100 metros da casa do Comandante Geral da Policia Militar - esta, diga-se a bem da verdade, guardada até por cães ferozes.


Editorial retirado do Jornal do Brasil em 26/11)

ÁGUAS MORTAIS

"Uma grande quantidade de petróleo foi mais uma vez, anonimamente despejada na Baía de Guanabara. Embora se tenha tratado de acidentes, a demora na identificação da responsabilidade confirma a sobrevivência da idéia de que a Baía pode ser tratada como a lixeira do Grande Rio. A carga diária de detritos lançados às suas águas ameaça cada vez mais o equilíbrio biológico sem o qual suas águas se despovoarão.
Desta vez o óleo invadiu 15 quilômetros de praia na Ilha do Governador. O fato acidental só se destaca, porém, pelo aspecto agressivo, já que a Baía recebe todos os dias uma crescente carga de despejo de procedência industrial e doméstica acima de sua capacidade de assimilação. A rotina já nos habituamos. Fica a indignação de um programa preventivo de amplitude, tendem a construir uma rotina paralela."


Atual, não? Poderia ser tranqüilamente uma capa de jornal de hoje, mas esses trechos foram publicados em 1976. A primeira coisa que me veio à cabeça quando li foi o conformismo. Certos fatos que deveriam ser encarados com surpresa e indignação são vistos como mero acontecimento, de pouco valor, rotineiro ou em prol do desenvolvimento.
É muito clichê e do senso comum pensar que quem desanda esse país são só os políticos. A eleição é feita democraticamente, não há fraude na contagem de votos. O que acontece é que as pessoas pouco se informam sobre seus candidatos. Agora essa via é de mão dupla, se há falta de empenho por parte do povo vem de uma descrença pelos mesmos aos candidatos, pois veem muito caos e pouca ordem em seus trabalhos. O ciclo continua: mantem o caos, pois não há cobrança, não há fiscalização do poder público.
Desenvolvendo esse texto – que não era para ser tão extenso – me veio as idéias de Tocqueville, que sempre trabalhou com a questão da liberdade e da igualdade. Para nós, a democracia está associada a um processo igualitário que não pode ser sustado e será com ação política do povo que irá definir a democracia: liberal ou tirânica. Com o individualismo mais que presente na sociedade moderna, todos estão preocupados com os seus lucros particulares e abandonam seus interesses pelas coisas públicas. Desta forma, são facilmente conduzidos como rebanho.
A saída para mim é um poder mais descentralizado, um poder mais próximo que levem os cidadãos a se associarem para defender os seus direitos. Manutenção de algumas instituições pode dificultar o surgimento de um estado tirânico. O que friso é maior ação política dos cidadãos, pois como já dizia Thomas Jefferson: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Você

Aquela pessoa que não seria bipolar, mas incerta e imprevisível. Aquela que para satisfazer, ficamos horas quebrando a cabeça para escolher um bom presente, algo que esteja sempre junto, que vá ser bastante usado. Curioso que no final percebe-se que o que verdadeiramente agrada, na intensidade desejada, é uma coisa simples, ou uma coisa bem clichê. Um carinho espontâneo muitas vezes basta.

Aquela pessoa que, no primeiro momento, é forte e decidida com uma proteção enorme, mas depois se mostra uma pessoa frágil que precisa de cuidados, de atenção, que aleatoriamente fica carente, que se exclui do mundo, duvida e discorda de tudo e de todos - até mesmo revê suas ideologias e crenças, pois isso não esta encaixado ainda. Com uma palavra é possível destruir toda a coesão do seu mundo, desconserta-la, balançar toda sua estrutura. Isso tudo de tão forte que você é.

Aquela pessoa que só joga o jogo dela, que paga pra ver a mão do outro, que é tão segura de si que aposta sempre nela. Pois acredita ser tão forte e decidida que si mesma é a melhor jogada, a mais segura, all-in. Mas minha cara, a banca sempre ganha, você poderá perde o chão e se desprender.

Sendo cético, esta pessoa pode ser você, mas também pode ser eu.

sábado, 12 de junho de 2010

Mais tarde



"A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo: Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais."
(Mario Quintana)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Por água abaixo

Tudo alagado
Atrapalhado
Interditado
Adiado
Cancelado
Abandonado
Parado

Tudo errado
Rio de janeiro rendido
E não é o crime organizado
Cidade maravilhosa
Submetida ao grande caos molhado

Espera e o ônibus não vem
Só carros, fazendo zona
E que não dão carona
Pois ninguém confia em ninguém

E se algum motorista fosse solidário?
Então seriam dois
Num carro em naufrágio

E se o ônibus viesse
Iria por qual avenida?
Chega mais, estresse,
Que não tem saída.

A solução aparente
É distrair a mente
Encher a cabeça de paz
Pra esquecer da outra enchente

Apelo pro fone de ouvido esperto
Na intenção de melhorar o clima
Droga, não deu certo.
Distúrbio sonoro com tanta buzina

Então de otário eu me taxo,
Humano intelectual brilhante
Vendo que qualquer caminho adiante
Foi por água abaixo

Está tudo complicado
Aqui, por esse mundo
Fluxo que não flui
E você respira fundo

Sem nenhuma trilha alternativa
Arrepia-se até a espinha
Numa calçada mais alta
A multidão se apinha
Na rua um peixe salta
Cadê a Marinha?
Reclama senhora, xinga senhor
E chora a chapinha

A gente não paga só impostos
Pagamos também os patos
Cazuza profeta
Dessa piscina cheia de ratos

O cidadão molhado sente
Água e vento em grande dose
A chuva veio de repente
Para a alegria da leptospirose

Trânsito intenso nas galerias fluviais
Embalagens e mamadeiras
Numa corredeira que já não corre mais
Resultante da soma do lixo com questões pluviais

Culpa dos homens animais

Placas tectônicas se encontram logo ali
Nuvens se encontram por aqui
O desencontro é o da raça humana
Que não sabe se chora ou ri.

Não há quem não enxergue
Que a frente
Um grande problema se ergue
E que enchentes urbanas
São só a ponta do iceberg

por Gabriel Menezes.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Revolta

Cannonball from California is a place. on Vimeo.



Novamente uma seca está esvaziando as piscinas dos quintais das casas californianas.
Só que desta vez, o que falta é dinheiro e não água.
A seca é a crise que surgiu no final de 2008 e ainda reflete consequências desastrosas.
Algumas destas piscinas estão cheias de água preta. Outras tornaram-se cemitérios para mobiliários antigos.
Elas possuem a forma de grãos de feijão e foram fabricadas por empresas nomeadas Sunny Side e Champagne.
Há décadas atrás, Fresno foi a perfeita representação do “Sonho Americano“: possuir um carro, uma casa própria e uma piscina. Todo mundo queria isto e o maravilhoso mundo do crédito tornou todo este sonho possível.
Mas agora, com a monstruosa crise, o sonho secou. Milhares de piscinas são abandonadas no quente sol do Vale Central.
Para a maioria das pessoas, isso é trágico. Mas para alguns, é uma oportunidade.

Texto e tradução: Fernando Tesch
Fonte: Skateonline.com

especial de fotos - Outlaw Pacaembu

















fotos retiradas de Marco Claro e StudioLeco.

AMIGOS

Todos sabem a importância deles. Desde quinta-feira passei a analisar o quão fundamental eles são. Não sei porque me ocorreu isso, veio do nada, mas depois fiquei pensando e pude perceber, na prática, que além de fundamental é a base, sendo dividida junto com a família.

Sexta-feira me encontrei com o Clube Skate de Ladeira. Conheço vários sujeitos e pertenço a vários grupos totalmente distintos, mas com essa galera é diferente (não desmerecendo os meus vínculos com as outras pessoas), porque eu nunca conheceria eles se não fosse a paixão pelo carrinho. Essa coisa tão especifica e aleatória trouxe para o coletivo muitas diferenças, enriquecendo a todos, e não por isso há uma desunião. O skate, que inicialmente era o único elo que tínhamos, sempre se manteve forte entre nós. Praticando Downhill, esporte pouco divulgado e consequentemente desconhecido, encontrei neles a mesma necessidade que eu tinha de arriscar, de sentir a adrenalina. Isso os torna mais especiais pra mim, no sentido próprio, particular e reservado, pois não encontramos em qualquer lugar, alguém que, depois de descobrir que andamos a mais de 90 km/h, não nos chame de malucos. Então, quando estamos juntos, deixamos finalmente o futebol de lado e conversamos sobre o que realmente importa, o que realmente queríamos conversar a semana toda, nos entendendo.

Acho incrível como a energia do grupo é imutável. Agora não mais me refiro diretamente ao CSL, mas de todos os grupos que pertenço. Você pode estar de um jeito, mas a partir do momento que estão todos unidos, vem uma coisa maior, além de todos, que parece dominar, uma energia única que só aparece com aquele grupo e quando todos juntos. Parece viagem, exagero, mas na minha visão é exatamente isso que acontece. Não temos essa mesma força e intensidade sozinhos, só temos quando estamos com eles, amigos.